• julho

    26

    2009
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Instalação evolui junto com projeto e materiais

Um bom projeto deve, além de atender as normas, levar em consideração aspectos como a operação, usabilidade e manutenção

Montagem dos Kits Hidráulicos

Redação AECweb

A boa instalação de sistemas hidráulicos prediais começa com um bom projeto. “Nele, devem estar aliados o desempenho das instalações com a melhoria do processo executivo, minimizando as interferências com as outras etapas da obra, proporcionando a racionalização da mão de obra e redução do desperdício de material”, afirma Erick Viegas, coordenador de instalações prediais da Sanhidrel, empresa especializada na execução de sistemas hidráulicos há mais de 50 anos. Para João Carlos Caribé, gerente de Projetos da Setec Instalações – empresa com quatro décadas de experiência e sede no Rio de Janeiro – um bom projeto é aquele que, além de atender as normas técnicas e as necessidades da arquitetura, leva em consideração aspectos como a operação, usabilidade e manutenção.

Caribé defende que “é preciso ir além do que especifica o arquiteto e entender o projeto com a visão do arquiteto”. Ele lembra que “com o advento do CAD, criou-se uma cultura da velocidade, onde o estudo preliminar, o ante projeto e o projeto final são feitos pela mesma pessoa. Isto, de certa forma, reduz a discussão em torno de um trabalho e, conseqüentemente, a pluralidade de visões. Hoje, se contorna esta deficiência através de sessões de ‘brainstorm’ de cada projeto”.

A falta de projeto é, segundo Viegas, a causa do insucesso técnico e financeiro de muitas obras. A começar pelo orçamento que, sem projeto, é baseado em estimativas. “Durante a execução da obra, os problemas se multiplicam, pois, sem um projeto executivo as interfaces com os demais projetos geram interferência que causam prejuízos, muitas vezes irreversíveis, sem contar o desperdício de material e mão de obra por conta da ausência de um planejamento prévio”, acrescenta. Na opinião de Caribé, não existem obras formais sem projeto. Algumas, no entanto, são iniciadas sem os projetos concluídos. Ou, quando se trata de reforma, os projetos são concebidos no início e adaptados ao longo da execução. “Um projeto permite uma visão de conjunto. Esta visão não existe em uma obra sem projeto e, em geral, a execução fica meio ‘frankenstein’, ou seja, tudo está super ou subdimensionado e mal pensado. O resultado não poderia ser mais negativo: dificuldade de uso, de operação e manutenção”, diz o gerente.

Na prática, ação hidráulica, quando executada da maneira convencional, sem um projeto que permita a pré-montagem e a industrialização dos serviços, geram  interferências inevitáveis com as demais etapas da obra. Viegas alerta que essas interferências vão desde a definição do material a ser utilizado na instalação como PVC, CPVC, PPR, PEX ou cobre, até marcação da laje, referências de nível, taliscas e faixas, corte de alvenaria e argamassa, tipo de impermeabilização, definição do revestimento do ambiente, tipo das louças e metais. O problema se agrava quando o gerenciamento de projetos é ineficiente numa obra, comprometendo o tripé custos, prazos e recursos. “Isto afeta a qualidade por falhas no cronograma, principalmente na fase de concretagem das lajes em que o tempo disponível para aplicar os materiais é curto e o stress alto. O fato de a estrutura gerencial das construções não seguir mais o velho modelo construtor e empreiteiros e, sim, gerenciador e empreiteiros, torna difícil a harmonização dos interesses no canteiro e, muitas vezes, um ou outro empreiteiro acaba danificando acidentalmente os trabalhos de instalações”, observa Caribé.

Instalação de Kits Hidráulicos

Pré-Instalação Hidráulica Convencional – Se executada sem projeto, pode gerar interferências inevitáveis nas demais etapas da obra

EVOLUÇÃO
Há 40 anos o bombeiro hidráulico tinha que ser um verdadeiro artesão, pois praticamente todo o esgoto secundário era fabricado em chumbo e latão na própria obra, as tubulações de esgoto eram em ferro fundido e as de água, invariavelmente, em ferro galvanizado”, quem lembra é Carlos Caribé, diretor da Setec, empresa responsável pelos projetos de instalações do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Erivaldo Araujo, encarregado de instalações da empresa ressalta que os materiais atuais são mais leves, duráveis – como o PPR – e de fácil instalação.

A resistência e a facilidade de manutenção também aumentaram, com redução de custos no metro linear instalado. “Hoje, para reparar um furo em uma tubulação PPR basta um pequeno buraco na alvenaria, suficiente para a entrada do equipamento de termofusão, enquanto que antigamente era preciso quebrar quase um metro de alvenaria para poder remendar um tubo furado”, lembra Caribé.

Erick Viegas diz que “o avanço tecnológico dos materiais não só facilitou, como também proporcionou novas soluções de engenharia para problemas de projetos e patologias das instalações”. Segundo ele, os benefícios proporcionados pela evolução dos materiais podem ser notados em três fases básicas da edificação: na elaboração do projeto, execução da obra e na operação do sistema.

Instalação hidráulica pré-montada

Instalação Hidráulica pré-montada – Sua longetividade dependerá da realização de manutenções preventivas

No projeto, se apresentam como alternativas para situações novas de arquitetura, necessidade de melhoria do desempenho das instalações e criação de novas premissas de projetos. Durante a execução, esses avanços se refletem diretamente no desempenho da equipe de obra. “Por exemplo, os tubos e conexões à base de polímeros são muito mais leves e práticos para realizar suas interligações. De acordo com o material, as interligações são feitas por termofusão, solda com adesivo químico, junta elástica, rosca, ou ainda por pressão. São procedimentos que facilitam muito a vida do instalador, que não necessita mais de grandes equipamentos e técnicas para resolver problemas. Antes, ele dependia de soluções artesanais dentro do canteiro de obra, o que encarecia as instalações e tinha um impacto negativo no cronograma da obra”, explica Viegas, acrescentando que na etapa de operação do sistema hidráulico, os materiais com melhor desempenho acústico, térmico e com soluções de manutenção simples proporcionam maior conforto e satisfação ao cliente final.

DESAFIOS
Permanecem, no entanto, alguns desafios. A mão de obra qualificada e familiarizada na manipulação de materiais é rara, de acordo com Caribé. “Encontramos muitos ‘aplicadores’. Mas é preciso um background técnico para entender a aplicação e não cometer erros básicos”, ressalta. Já o coordenador da Sanhidrel aponta “a necessidade de desenvolver junto à construtora, projetistas e fornecedores um projeto que englobe, não apenas instalações hidráulicas em sua essência, mas um projeto que tenha soluções sistêmicas. Com isso, se consegue minimizar as interferências e a interdependência das demais etapas da obra, e implantar a industrialização das instalações, garantindo um ganho de qualidade e escala de todo o processo”.

Na contramão das boas práticas, “ainda existem construtoras que gerenciam suas obras visando apenas a redução de custos, um imediatismo que acaba aumentando o custo de assistência técnica”, ressalta Caribé. Na visão de Viegas, há construtoras que alteram a especificação do projeto, porém, numa tentativa de adequar o projeto à realidade do empreendimento. “O que não é errado, desde que a construtora/incorporadora consulte o responsável pelo projeto e valide tais alterações”, opina.

MANUTENÇÃO
A longevidade do sistema hidráulico predial depende da manutenção preventiva “feita através de ações simples como manobrar registros, limpar ralos e sifões, não descartar produtos nocivos aos materiais aplicados, manter pinturas e proteções quando as instalações estiverem expostas a intempéries e manutenção dos elementos eletromecânicos”, cita Viegas. “Mas, é comum que o gestor ou o operador da manutenção preventiva, ao não encontrar problema em algumas vistorias programadas, acaba negligenciando a manutenção que se torna, inevitavelmente, uma manutenção corretiva, emergencial. E, culturalmente falando, valoriza-se em primeira instância aquele que ‘solucionou o problema’ em detrimento daquele que o poderia ter evitado”, alerta Caribé.

Prumadas Instalações Hidráulicas

Prumadas, item essencial das instações hidráulicas

Entre os problemas mais comuns encontrados pela equipe da Setec nas obras, principalmente na fase de assistência técnica após a obra, estão aqueles relacionados a tubos furados para a colocação de elementos de decoração e mobiliário, raízes de árvores que invadem o sistema de esgoto, problemas nas conexões de equipamentos causados por instaladores de eletrodomésticos. “Em alguns casos raros encontramos, também, entupimentos nos ralos por entulho e cimento depositado no decorrer da obra. A maioria dos problemas ou patologias são evitados por diversos testes e controles determinados por normas técnicas para estanqueidade do sistema hidráulico e fluidez no sistema de esgoto”, ensina João Caribé.

Mas, quando o problema se apresenta, o maior desafio é encontrar sua origem. “Quando se trata de vazamento, muitas vezes o local onde ele aparece na edificação não é o local da patologia. Vencida essa etapa, é estudada a forma mais eficaz para solucionar o problema, levantando as hipóteses que possam ter gerado a patologia, que vão desde falhas de projeto, material e instalação até os elementos ligados ao sistema, como aquecedores e outros equipamentos”, diz Erick Viegas.

Redação AECweb


Colaboraram para esta matéria:

Erick Viegas – Coordenador de instalações prediais da Sanhidrel, é técnico em edificações (LAO-SP 2000), engenheiro civil (UAM-SP 2006) e pós graduando no curso de MBA Executiva da Construção Civil (FGV-EESP 2009). Iniciou sua carreira como estagiário de técnico em edificações na própria Sanhidrel em 1998, onde passou por alguns departamentos e participou da execução e desenvolvimento de obras e processos. Atualmente coordena um grupo de 20 obras.

 

 

 

 

João Carlos Caribé  – Gerente de Projetos da Setec Instalações, formou-se em Eletrotécnica; cursou engenharia, informática e se graduou em publicidade. Trabalhou na Setec de 1984 à 1994 e desenvolveu projetos simples e inusitados como Marinas, Hotéis Flutuantes, Fábricas, Villages. Agora, está de volta à empresa para mais um novo grande desafio, o projeto de instalações da reforma do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

 

 

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